Não podemos nos enganar!!!!

A Guerra do Rio – A farsa e a geopolítica do crime

Cumprindo com compromisso de publicar notícias que não se encontram na grande mídia, divulgamos texto do professor José Claudio S. Alves, sociólogo da UFRRJ, sobre os acontecimentos no Rio.

Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.

Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônica na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadam Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farça da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos faz esquecer que ela tem outra finalidade e não a hegemonia no controle do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado finaneiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

Galeano será leitura básica na Bolívia

A partir de 2011, o livro “As veias abertas da América Latina” deverá ser adotado por todas as escolas do país

Vinicius Mansur
De La Paz na Bolívia

O anúncio foi feito pelo vice-ministro de Descolonização, Félix Cárdenas, durante o 1º Encontro Nacional do Processo de Descolonização, realizado durante esta semana na cidade de La Paz.

Em entrevista ao jornal boliviano Cambio, Cárdenas afirmou que, “a partir de 2011, o Ministério de Educação estabelecerá que a obra de Galeano deve ser necessariamente assumida como um livro base de leitura (...) O livro ‘As Veias abertas da América Latina’ permite ter uma outra visão, já que desestrutura a história colonial da região”, disse Cárdenas. De acordo com o vice-ministro, outros livros serão incluídos, como os do sociólogo Zavaleta Mercado, “que inspiraram a revolução de 52”.

O livro do historiador, escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano foi publicado em 1971. A obra analisa a história da América Latina desde a colonização européia, com crônicas e narrativas do constante saqueio de recursos naturais da região, divididas em duas partes: “A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra” e “O desenvolvimento é uma viagem com mais náufragos que navegantes”.

“As veias abertas da América Latina” também será transformada em música na Bolívia. Segundo Cárdenas, o grupo mexicano Bolas Uriana virá à Bolívia, visitará vários departamentos em encontros, principalmente, com povos indígenas para, então, musicalizar o livro. Também há a intenção por parte do vice-ministério de teatralizar-lo.

Despatriarcalização
Cárdenas também destacou a recente criação da Unidade de Despatriarcalização, como órgão interno do vice-ministério de Descolonização. “Parece insignificante, isso deveria ser um ministério, mas o que estamos fazendo é transgredir as condutas coloniais, porque não se trata de lutar contra o homem a partir do feminismo, senão de desestruturar o patriarcado como forma de poder”.

De acordo com o vice-ministro, a Unidade de Despatriarcalização está conformada por mulheres indígenas, muitas delas ex-congressistas constituintes, eleitas durante o processo que aprovou a atual Constituição boliviana. “A construção da nova Constituição implica isso, desmontar a conduta colonial”, apontou Cárdenas.

A mentira na História e a compreensão da crise

Miguel Urbano Rodrigues | Lisboa

O capitalismo atravessa uma crise estrutural para a qual não encontra soluções. Para que os povos se mobilizem na luta contra o sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que deforma o real, impondo à humanidade uma história deformada, forjada pelo capitalismo para servir aos seus interesses.

Essa compreensão é extraordinariamente dificultada pela máquina de desinformação midiática controlada pelas grandes transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação, mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.

No esforço para enganar e confundir os povos, a primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um bombardeamento mediático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira, resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia, mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do capitalismo, de âmbito mundial.

A simulação da surpresa fez parte do jogo. O presidente dos EUA e os senhores da finança mentiram conscientemente. As grandes crises mundiais raramente são previstas e anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se na lógica da História.

Isso aconteceu, por exemplo, após a Segunda Guerra Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projeto de dominação do capitalismo.

A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha como grande potência militar e econômica, gerou uma situação potencialmente conflitiva. A partilha dessa dramática herança foi feita, numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferências de Teerã e Ialta. Mas, quando os canhões pararam de atirar, Washington e Londres logo se entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos assumidos.

A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava inventar outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que, nas duas décadas anteriores, apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram rapidamente retomados. Como os povos estavam sedentos de paz, uma gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir, no Ocidente, centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista sobre uma paz perpétua.

A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão “cortina de ferro” para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente discutido com a Casa Branca. O medo da “barbárie russa” abriu o caminho para a Doutrina Truman e para a Otan.

Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra. Cabe recordar que, somente após o afastamento dos comunistas dos governos da França e da Itália, os ministros anticomunistas deixaram de integrar governos de países do Leste Europeu.

É também significativo que os historiadores norte-americanos e ingleses, com raríssimas excepções, omitam que a implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa sem recurso à força armada enquanto na Grécia – país situado na zona de influência inglesa – o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas os media ocidentais ignoraram esses massacres. O tema era incômodo.

O tão comentado plano russo de “conquista e dominação mundiais” não passa de um mito forjado em Washington e Londres para criar o alarme e o medo propícios à criação da OTAN como “aliança defensiva” capaz de se opor “à subversão comunista”. E a arma atômica passou a ser usada como instrumento de chantagem.

Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a guerra e promover o “expansionismo comunista” uma sociedade nessas condições?

A agressividade vinha toda dos EUA que tinham sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado britânico.

O Reino Unido, cujo império principiava a se desfazer, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao aliado russo, antes frequentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina de Ferro, meses antes do final da guerra, tenha afirmado “não conheço outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o governo soviético russo. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma discussão sobre a boa fé russa” (Citado por Isaac Deutscher em Ironias da História, pág. 184, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1968). Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o mundo.

Mesma hipocrisia numa crise muito diferente

Desagregada a União Soviética e implantado o capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados. Surgiu assim “o eixo do mal”. Pequenos países como Cuba, o Iraque e a Coréia do Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram apresentados como “ameaça à segurança” dos EUA e dos seus aliados. Um homem, Osama Bin Laden, foi guindado a “inimigo número um” dos EUA. O Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial.

Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina mediática dos EUA inundou o mundo com noticias sobre “as armas de extinção massiva” que Sadam Hussein teria acumulado para agredir a humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror. O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.

O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer que, afinal, as tais armas de extinção massiva não existiam. Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA agigantou-se. O orçamento de Defesa do país é o maior da História.

Agora chegou a vez do Irã. O berço de uma das mais importantes civilizações criadas pela Humanidade é a mais recente ameaça à “segurança dos EUA”. A Agência Internacional de Energia Atômica não conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com o objetivo de produzir armas atômicas.

Com o aval do Brasil e da Turquia, o governo de Ahmadinejad comprometeu-se a que o seu urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerã. Mais: o presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atômicas táticas contra o país se ele não se submeter a todas as suas exigências.

Isto acontece quando Obama se viu forçado a demitir o comandante chefe norte-americano no Afeganistão na sequência de uma entrevista na qual o general Mc Chrystal – aliás um criminoso de guerra (ver artigo de John Catalinotto em www.odiario.info, 12.7.2010) – criticou duramente o Presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na região.

Entre a farsa e a tragédia

Diariamente, os grandes media norte-americanos repetem que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é critica.

É suficiente ler os artigos sobre o tema de prêmios Nobel da economia, empenhados na salvação do capitalismo – Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo – para se compreender que a situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se.

Não é a taxa do PIB que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas financeira. Os discursos do presidente contribuem para confundir os cidadãos em vez de os esclarecer. Persistem contradições entre a Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da Administração que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.

A retórica presidencial não pode esconder que a estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais.

As empresas acumulam novamente lucros fabulosos enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prêmios principescos.

O grande capital resiste, aliás, com o apoio firme do Partido Republicano, a todas as medidas de caráter social, na maioria tímidas – como a reforma do sistema de saúde – que a administração adota (ver artigo de John Bellamy Forster, www.odiario.info, 13.7.2010).

É cada vez mais transparente que estamos perante uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria da humanidade não tenha tomado consciência dessa realidade.

A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia como saída “salvadora” é muito forte, mas no próprio Pentágono generais influentes temem as consequências de um ataque ao Irã. A invasão terrestre está excluída e o bombardeamento com armas convencionais de alvos estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca vaga de antiamericanisno no mundo muçulmano.

O recurso a armas nucleares táticas é a opção de uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se. Não obstante a vassalagem dos governos da União Européia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a extinção da humanidade.

Retomo assim a afirmação do início, tema desta reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da crise de civilização que o homem enfrenta.

5X Favela - Agora Por Nós Mesmos

O primeiro longa totalmente feito por jovens moradores de favelas retrata cinco histórias que acontecem em comunidades cariocas



Muitos filmes já retrataram a favela sob a ótica bandidos, da polícia e da classe média. Em 5X Favela - Agora Por Nós Mesmos é a vez dos moradores do morro apresentarem a sua realidade. Sete jovens cineastas de comunidades do Rio de Janeiro, formados em oficinas profissionalizantes ministradas por profissionais como Walter Salles, Ruy Guerra e Fernando Meirelles, foram os responsáveis pelas histórias que compõem o longa.

Baseado em Cinco Vezes Favela, de 1961, quando cinco jovens da classe média subiram os morros para fazer um filme em episódios, o longa foi apresentado em caráter hors concours no Festival de Cannes deste ano. Com um orçamento de R$ 4 milhões, a película contou com a mão de obra de 84 dos 229 participantes das oficinas, que integraram toda a equipe técnica.

O primeiro episódio apresentado é Fonte de Renda, dirigido por Manaíra Carneiro e Wagner Novais. Com o uso do estilo que conta do fim para o início, o filme retrata a história do jovem Maicon (Silvio Guindane), que sonha com a faculdade; algo muito caro para qualquer família pobre da favela. A história tem a presença de Hugo Carvana, como padrinho do rapaz.

Arroz com Feijão, a segunda narrativa, é uma mistura de gêneros feita por Rodrigo Felha e Cacau Amaral. Com um final surpreendente, conta as aventuras do pequeno Wesley (Juan Paiva) que, no dia do aniversário do seu pai, se junta com seu melhor amigo Orelha (Pablo Vinicius) para conseguir algo raro para o jantar: um pouco de carne para misturar ao arroz e feijão.

Luciano Vidigal é o diretor da terceira obra: Concerto Para Violino. Neste, o tráfico de drogas é abordado diretamente, de maneira ríspida e violenta, assim como apresentado em longas conhecidos, como Cidade de Deus, de Fernando Meirelles.

O próximo, Deixa Voar, de Cadu Barcelos, surge com um clima de tensão. Flávio é um adolescente de 17 anos que decide enfrentar o medo e ir até a favela rival para recuperar a pipa de seu amigo.

Luciana Bezerra assina Acende a Luz, o último da série, que traz a mensagem de que vale a pena debochar da vida. Tudo acontece na véspera de Natal, quando toda vizinhança está pronta para comemorar. Porém, o morro está sem luz e o que era para ser uma tragédia se torna cômico em poucos segundos.


INFORMAÇÕES

Censura: 14 anos
Diretor: Luciana Bezerra, Cacau Amaral, Rodrigo Felha, Wavá Novais, Manaíra Carneiro, Cadu Barcellos, Luciano Vidigal
Elenco: Marcio Vito, Gregório Duvivier, Hugo Carvana, Silvio Guindane.
Nome Original: 5x Favela - Agora Por Nós Mesmos
Ano: 2010
País: Brasil
Duração: 103 minutos
Site: Oficial

FIFA arquiva investigação sobre maus tratos ao técnico da Coreia do Norte

Imprensa asiática noticiou que Kim Jong-Hun teve de fazer trabalhos forçados após a Copa, mas entidade não encontrou qualquer prova

Kim Jong-Hun, técnico da Coreia do Norte, durante

um jogo da Copa do Mundo (Foto: Getty Images)
A Fifa anunciou nesta quarta-feira que arquivou a investigação que fazia sobre supostos maus tratos sofridos por técnico e jogadores da Coreia do Norte após a eliminação na Copa do Mundo. A denúncia surgiu na imprensa asiática, mas a entidade máxima do futebol não encontrou qualquer prova ao longo de sua investigação.

"A federação norte-coreana assegura que o técnico e todos os outros membros da equipe nacional estão treinando normalmente. A associação também indicou que não houve sanções ao treinador e que essas informações são infundadas. Com todas essas informações na mão, e tendo checado todas as fontes, a Fifa decidiu encerrar o caso", diz o comunicado emitido pela entidade.

Segundo a denúncia da imprensa, jogadores e a comissão técnica da Coreia do Norte foram sabatinados por 400 pessoas quando voltaram ao país, após perderem seus três jogos na Copa do Mundo. O técnico Kim Jong-Hun teria sido demitido e enviado para fazer trabalhos forçados. Nada disso foi comprovado.

A Coreia do Norte perdeu para Brasil (2 a 1), Portugal (7 a 0) e Costa do Marfim (3 a 0) na Copa da África do Sul.

Exposição temporária: “Dr. Getúlio: Entre o trabalho e os livros”.

De: 24 de agosto até final de setembro
Curadoria: Silvia Pinho
Museu da República:
Rua do Catete, 153 – Catete – RJ
Tel: 3235-2650
De terças a sextas-feiras, das 10 às 18 hs. Sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 hs

Uma leitura imprescindivel!!

FALIVENE ALVES, JÚLIA. A invasão cultural norte-americana
Ed Moderna

Neste livro, nosso cotidiano é analisado para denunciar como a identidade brasileira tem sofrido o impacto avassalador do estilo de vida ianque. Para tanto, a autora desvenda os aspectos ideológicos decorrentes dessa invasão nos mais diversos setores, como a língua portuguesa, as músicas, os brinquedos, a educação escolar, o lazer, a política, bem como a cultura enlatada veiculada pelo rádio, tevê, cinema e publicidade.

ALBERT EINSTEIN

O desenvolvimento da capacidade geral de pensamento e livre-arbítrio sempre deveria ser colocado em primeiro lugar, e não a aquisição de conhecimento especializado. Se uma pessoa domina o fundamental no seu campo de estudo e aprendeu a pensar e a trabalhar livremente, ela certamente encontrará o seu caminho e será mais capaz de adaptar-se ao progresso e às mudanças.

Voto Consciente

2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil prorroga inscrições

Atendendo a inúmeros pedidos, a organização da 2ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) do Museu Exploratório de Ciências, decidiu prorrogar o prazo de inscrição para o dia 11 de agosto. De volta às aulas, no mês de agosto, estudantes e professores terão mais tempo para organizar suas equipes.

Mas, atenção!

As equipes que já realizaram as inscrições e ainda não pagaram seus boletos devem fazê-lo até o dia 9 de agosto, pois o prazo de pagamento dos boletos já emitidos não pode ser prorrogado.
Vale lembrar, que o prazo do dia 11 de agosto é para novas inscrições. Os organizadores recomendam as equipes, não deixar a inscrição e o pagamento do boleto para o último dia, pois correm o risco de não efetivarem a participação.
Outro importante lembrete: a inscrição só é válida após o pagamento do boleto. Não basta, apenas, preencher a ficha de inscrição. É muito importante, também, que as equipes preencham corretamente o endereço de email para receber o documento de pagamento.
Além disso, é recomendável verificar a caixa do lixo eletrônico para assegurar-se do recebimento, em casos de extravio das mensagens eletrônicas.
Assessoria de Imprensa
Museu Exploratório de Ciências

Trailer Cidadão Boilesen

Atlas Histórico Escolar

7ª edição do Atlas Histórico Escolar constituído de três partes distintas, História do Brasil, História da América e História Geral, apresenta mapas que são complementados por textos e ilustrações artísticas de cenas e épocas históricas, representativas do panorama cultural.

Acesse aqui

Brizola responde a GLOBO...

Cid Moreira, a voz do dono, a voz do Grande Irmão, a voz que surgiu do AI-5, voltou-se contra si mesma. Foi um daqueles momentos que servem como símbolos, como instantâneos da história. Cid Moreira falou, e falou e falou, contra Roberto Marinho. Foram três longos minutos, contra a Globo, no Jornal Nacional. O redator era Leonel Brizola, que ganhou direito de responder ao ataque que havia recebido do mesmo Jornal Nacional, que o chamou de senil.


Abalando as estruturas globais

QUATRO FATOS EM DEFESA E EM SOLIDARIEDADE À CUBA

Encerrou-se em Porto Alegre, a 18ª Conferência Nacional de Solidariedade à Cuba, onde mais de 300 representantes de treze Estados discutiram formas de contribuir para a defesa da Revolução Cubana frente às agressões do Império estadunidense e aos ataques midiáticos da grande imprensa privada. Independente da visão que se possa ter de Cuba, o apoio incondicional à Revolução se apresenta como uma das tarefas prioritárias da esquerda latino-americana como um todo; não se trata de simples solidariedade internacionalista para com a luta de 52 anos de um povo por sua autodeterminação soberana. Muito além disso, trata-se da defesa dos ideais e valores socialistas mais elementares, que se encontram intimamente associados à imagem de Cuba Socialista, num mundo onde o domínio político, militar e ideológico do capitalismo é esmagador. É importante ressaltar que, vinte anos antes, o desaparecimento do socialismo soviético do leste europeu não somente destruiu o stalinismo, mas também foi muito além, solapando toda e qualquer força política que se identificasse minimamente com os ideais socialistas, inaugurando uma era de retrocessos sociais e recuo das forças de esquerda da qual ainda hoje o mundo não se recuperou.

Defender pois a Revolução Cubana se torna tão importante quanto urgente. E uma das batalhas mais importantes dessa luta se dá no terreno das idéias, quebrando-se com fatos certos preconceitos e falsos juízos sobre Cuba arraigados ao senso comum geral. Há dessa forma quatro pontos básicos que todos precisam saber sobre Cuba:

PRIMEIRO FATO: QUANDO FALA DE CUBA, A MÍDIA NÃO É NEUTRA

Tal fato, embora possa ser óbvio para muitos, para o senso comum majoritário passa frequentemente despercebido. Assim, quando o assunto é Cuba, em primeiro lugar é sempre bom lembrar (e denunciar!) que a forma com que a mídia aborda a realidade cubana, aí inclusos a maioria dos órgãos da grande imprensa do Brasil e além, é falsa e extremamente tendenciosa, sendo orientada não no sentido de informar, mas antes de difamar, caluniar e atacar Cuba. Isso fica evidente quando se reconhece os interesses de classe aí envolvidos. É fato conhecido, embora há muitos isso possa passar despercebido, que se a Revolução aboliu a exploração capitalista de Cuba, e as empresas de comunicação no Brasil e em outros países são capitalistas, é evidente que o grande interesse dessa mídia capitalista é de destruir seu inimigo ideológico, promovendo uma guerra suja onde a primeira baixa é a verdade. Fica assim fácil entender porque todos os dias nos chegam notícias sobre "violações dos direitos humanos" e de "repressão política" em Cuba, como se direitos fundamentais tais como direito à educação, à saúde, emprego, alimentação e moradia, plenamente consolidados em Cuba (mais até do que em muitas "democracias") não fossem direitos humanos. Ou como se "prisioneiros políticos" como os 75 "presos de consciência" encarcerados em 2003 não fossem na verdade agentes de uma potência inimiga, cubanos equipados, financiados e orientados pelos EUA para agir contra o governo de seu país, o que configura crime de Estado não só em Cuba como também em muitas "democracias", aí inclusos Estados Unidos e Europa. Ou como se não houvessem em Cuba diversos opositores em liberdade, que não são perseguidos pelo governo e até mesmo participam livremente do processo político cubano e de suas eleições.

Por tudo isso, sempre que ver ou ler algo sobre Cuba nas telinhas, nos jornalões ou nas revistas semanais, pare, pense e reflita. Será que é mesmo verdade? E que interesses estão por trás de tais "notícias"?

SEGUNDO FATO: O BLOQUEIO E AS SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Novamente, aqui cabe mais ressaltar do que informar. É fato conhecido por muitos a existência do bloqueio imposto à Cuba há mais de 50 anos, mas ainda assim há quem não o associe à situação econômica difícil que a ilha socialista passa. Fala-se de Cuba como um país "miserável" ou até "falido", um país "fechado" ao resto do mundo. Fechado sim, mas por uma porta que se tranca pelo lado de fora! Desde a Revolução, os EUA impõem à Cuba um bloqueio criminoso, que já custou ao longo das décadas quase uma centena de bilhões de dólares de prejuízo à ilha socialista, que se vê proibida pelo Império de comerciar com outros países e até mesmo usar o dólar, hoje dominante no comércio internacional. O pouco intercâmbio que Cuba consegue realizar só se faz driblando as restrições do Império. Tal bloqueio, caracterizado como crime de guerra pelo direito internacional, ainda limita remessas de dinheiro para Cuba de cubanos residentes nos EUA, e até mesmo cidadãos estadunidenses de viajar à Cuba, sob pena de prisão. Além disso, o Império ainda incita a imigração ilegal de cubanos para os EUA, como forma de desgastar a Revolução privando-a de seus melhores profissionais e especialistas!

Diante disso tudo, fica a pergunta: que país capitalista resistiria por mais de meio século a tantas agressões e restrições como as que se impõem sobre Cuba? Que capitalista continuaria "rico e próspero" sob tal cerco?

TERCEIRO FATO: A DEMOCRACIA E AS INSTITUIÇÕES EM CUBA

O primeiro erro em que se incorre ao se falar em "democracia" é tratar tal conceito como algo absoluto: "ali" é uma "democracia", "acolá" é uma "ditadura". O que existe na verdade são nações mais democráticas (ou menos) do que outras; e o fato é que Cuba, por mais que se diga o contrário, é uma das nações mais democráticas do mundo, principalmente por seu extremo zelo para com os direitos humanos mais básicos (educação, saúde, alimentação, moradia, etc), mas também por sua própria estrutura política. Custa muito ao senso comum acreditar que, na "ditadura dos Castro", há sim instituições, leis e tribunais. Mais, há também protagonismo popular, não somente através de eleições como também na fiscalização dos representantes do povo. O máximo poder existente em Cuba, o Conselho de Estado, tem seus membros eleitos dentre os deputados da Assembléia Nacional, que por sua vez tem seus membros eleitos através de eleições diretas e secretas, onde a participação popular chega próxima aos 100% e os votos brancos e nulos nunca ultrapassam 5%. Os candidatos – que uma vez eleitos, podem a qualquer momento ter seu mandato revogado pelo povo – são indicados em assembléias de bairro em todo o país, e o Partido Comunista, embora seja o único existente, não lança candidatos – entende-se o papel do Partido não como entidade que visa disputar votos, mas sim como instituição inspiradora e propagadora dos ideais socialistas. Até mesmo Fidel e Raúl Castro, para chegarem à presidência, precisam antes ser eleitos deputados em suas respectivas zonas eleitorais!

QUARTO FATO: A SOLIDARIEDADE INTERNACIONALISTA DE CUBA PARA COM O MUNDO

Quando o assunto é a solidariedade de Cuba para com os povos do mundo, chega-se aí a um dos fatos mais importantes – e não por coincidência, menos divulgados – sobre a Revolução. De fato, há muito que essa nação do Caribe já fez pelo mundo em seus poucos mais de cinquenta anos de trajetória revolucionária, muito mais até do que se poderia esperar de um país tão pequeno e fustigado. Nos campos político e militar, a ilha cumpriu o importante papel de fornecer apoio aos povos latino-americanos nos tempos em que quase a totalidade do continente se via assolado por ditaduras civil-militares, tendo a Revolução influenciado e ajudado na sobrevivência de toda uma geração de líderes de esquerda da região. Decisivo também foi o auxílio das forças expedicionárias cubanas na consolidação das independências de Angola e Namíbia, e mais importante, na destruição das pretensões expansionistas do apartheid, fazendo da ajuda cubana decisiva para a queda do regime sul-africano de segregação racial, conforme o próprio Nelson Mandela admitiu ao chamar Fidel Castro de "irmão de luta". E no campo da saúde popular, há décadas que Cuba mantêm centenas de médicos por todas as partes do mundo, fornecendo atendimento gratuito e de qualidade para milhões de pobres e desamparados, pessoas que sem a ajuda da Revolução não teriam qualquer assistência à saúde. Quem sabe, por exemplo, que Cuba já prestava ajuda ao povo do Haiti antes mesmo do terremoto? Inclusive, a ajuda cubana se faz presente até mesmo no tratamento cirúrgico, como na Operação Milagro, que já devolveu a visão a milhares de pessoas cegas na América Latina e na África.

Aqui, porém, mais do que nunca, Cuba desafia o senso comum. Àqueles acostumados aos valores de nossa "modernidade" capitalista, fica difícil reconhecer que um país pequeno, empobrecido por um bloqueio cruel e com tantos problemas econômicos, possa se dedicar a ajudar povos de outros países sem esperar nada em troca. Trata-se de um choque de visões de mundo. O senso comum é incapaz de ver que, por trás da solidariedade internacionalista, há valores diferentes. São valores como humanismo, amizade, cooperação, igualdade e o mútuo auxílio pelo bem-estar comum, valores do socialismo. Quem não enxerga essa questão fundamental jamais entenderá a força que guia e mantém viva a Revolução, nem tampouco será capaz de ver o que a experiência socialista cubana, independente de seus defeitos ou problemas, tem de melhor pra oferecer ao mundo: o exemplo de que outra sociedade, mais humana e superior ao capitalismo, não só é necessária como, também, é real e perfeitamente viável.

Fonte: http://auto-gestao.blogspot.com/2010/06/quatro-fatos-em-defesa-e-em.html

Sabe aquele jogador da Coréia do Norte???

Sabe aquele jogador da Coréia do Norte que desatou no choro ao ouvir o hino de seu país antes do jogo com o Brasil:

Numa declaração à imprensa esportiva de todo o mundo disse mais ou menos o seguinte: conheço a miséria proporcionada pelo capitalismo, vivi no Japão e ao lado de muitos brasileiros e em condições miseráveis de escravo. Meus pais vivem na Coréia do Sul, optei por viver na Coréia do Norte para ser tratado com dignidade, como ser humano?

É só uma questão de propaganda, de edição do filme...

A crise, os trabalhadores e a ecologia



Hoje (29 de maio) na História - 1453: Constantinopla é tomada pelos turcos

Em 29 de maio de 1453, a cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino desde o ano de 395, cai nas mãos do sultão otomano Mehmet II, após um sítio de diversas semanas. Desde o século XIV, que os turcos otomanos haviam se apoderado de grande parte da península balcânica. Esta vitória corta o Ocidente de suas raízes greco-romanas e orientais. A cidade seria rebatizada de Istambul e atingiria seu apogeu sob o reinado de Solimão I, o Magníico (1520-1566).

Constantinopla era, até o momento de sua queda, uma das cidades mais importantes no mundo. Localizada no estreito do Bósforo entre o mar Negro e o mar de Mármara, funcionava como uma ponte para as rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia por terra. Também era o principal porto nas rotas que iam e vinham entre o mar Negro e o mar Mediterrâneo. Para explicar como uma cidade deste porte caiu em mãos estrangeiras, é preciso uma explicação histórica.

A partir do século III, o centro administrativo do Império Romano tendia a voltar-se mais para o Oriente, por múltiplas razões. Primeiro pela necessidade de defesa das fronteiras orientais; depois porque o oriente havia se tornado a parte econômica mais vital do domínio romano; por fim Roma era uma cidade rica de vestígios pagãos, o que era inconveniente num império cristão. Desse modo Constantino decretou a construção de uma nova capital, onde ficava a antiga fortaleza grega de Bizâncio, ponto de grande importância estratégica. A nova cidade recebeu o nome de Constantinopla, "cidade de Constantino" e foi concebida como uma "nova Roma". Rapidamente se tornou o centro político e econômico do Império. Sua criação teve repercussões também no plano eclesiástico: enquanto em Roma a Igreja Católica adquiriu mais autoridade, em Constantinopla o poder civil controlou a Igreja.

O declínio do Império Bizantino decorre principalmente da expansão dos turcos seljúcidas e dos conflitos com os húngaros. Porém, a primeira vez que Constantinopla foi saqueada o foi pelos cristãos ocidentais, e não por seus inimigos tradicionais. A capital do Império Romano do Oriente foi tomada pela Quarta Cruzada em 1204. O ataque foi feito pelo mar, e a cidade foi saqueada e incendiada por três dias, e nem tesouros da Igreja Ortodoxa e supostas relíquias cristãs, riquezas acumuladas por quase 1000 anos, foram poupados.

Em 1190, a Terceira Cruzada, formada por contingentes das potências ocidentais, não recebera dos bizantinos o apoio esperado quando se dirigia à Terra Santa. Tal fato se deu porque os bizantinos, acreditando que o líder dos turcos, Saladino, principal inimigo dos cruzados instalados na Terra Santa, fosse invencível, preferiram manter a maior neutralidade possível. Outro fator era o cisma religioso existente, não aplacado pelos esforços da Igreja Católica Romana e da Igreja Católica Ortodoxa Grega. Também deve ser considerado o costume de se distribuir entre os generais e seus soldados o butim de guerra, formado pelos lendários tesouros e famosas relíquias.

Além disso, existia uma crise sucessória no trono bizantino, que facilitou a investida cruzada. Depois de uma revolta bizantina, em 1204 os cruzados novamente tomaram a cidade. Inaugurou-se assim o chamado Império Latino (1204-1261) com o reinado de Balduíno I (Balduíno IX, Conde da Flandres) . Parte dos territórios bizantinos foram divididos entre os chefes da cruzada, formando-se os reinos independentes católicos na região de Tessalônica, Trebizonda, Épiro e Nicéia. Os bizantinos reuniram forças, e em 1261 retomaram Constantinopla e restabeleceram seu domínio sobre a Península Balcânica. Mas agora governavam um império depauperado economicamente e sem o apoio da Igreja Católica, que perdurou até 1453.

Mesmo antes da Quarta Cruzada, o Império Bizantino vinha, havia muitos séculos, perdendo territórios para muçulmanos no Oriente Médio e na África. No início do século XI, uma tribo turca vinda da Ásia Central, os seljúcidas, começaram a atacar e ganhar territórios bizantinos na Anatólia. No final do século XIII, os seljúcidas já haviam tomado quase todas as cidades gregas da Anatólia. Nesta época, um clã semi-nômade turco teria migrado do norte da Pérsia para o oeste. O líder desse clã chamava-se Osman I ou Othman, daí porque esses turcos passaram a ser conhecidos como "otomanos".

A queda de Constantinopla teve grande impacto no Ocidente. Os cronistas da época confiavam na resistência das muralhas e achavam impossível que os turcos pudessem superá-las. Chegou-se a iniciar conversações para uma nova cruzada para liberar Constantinopla do jugo turco, mas nenhuma nação quis ceder tropas naquele momento. Para os historiadores em geral a Queda de Constantinopla marcou o fim da Idade Média.

Com Constantinopla sob domínio muçulmano, o comércio entre Europa e Ásia declinara subitamente. Nem por terra nem por mar os mercadores cristãos conseguiriam passagem para as rotas que levavam à Índia e à China, de onde provinham as especiarias e artigos de luxo.

As nações européias iniciaram projetos para o estabelecimento de rotas comerciais alternativas. Portugueses e espanhóis aproveitaram sua posição geográfica junto ao Oceano Atlântico e à África para tentar um caminho ao redor deste continente para chegar à Índia. Já Cristóvão Colombo via uma possibilidade de chegar à Ásia pelo oeste, através do Oceano. Com as Grandes Navegações, Portugal e Espanha, países outrora sem muita expressão, se tornaram no século XVI os mais poderosos do mundo, estabelecendo uma nova ordem mundial.

Omar Torrijos

"Lo fundamental no son las próximas elecciones sino las próximas generaciones"
Omar Torrijos

"A Guerra contra a Democracia"

Um filme sensível, humano, inteligente e essencial. O premiado jornalista John Pilger mostra a cruel realidade planejada pelos EUA para quase todos os países latino-americanos. Golpes, assassinatos, grupos de extermínio, torturas, genocídios - financiados e treinados pela CIA, acompanhados por uma cobertura quase sempre desonesta da mídia local - transformaram esses países no que eles são hoje: Desigualdade, miséria, desinformação e fornecedor de produtos primários. Certos documentos apresentados pelo filme revelam a realidade que a mídia esconde até os dias de hoje.

Mas o documentário não é só amargura e mostra numa mensagem de otimismo de que o povo pode sair às ruas e conseguir o que lhe é de direito. Isso é bem ilustrado em dois ótimos exemplos na América do Sul: Venezuela e Bolívia, que ao contrário do que diz quase todos os nossos meios televisivos e impressos - se transformaram em símbolos da luta popular pela democracia. Esse documentário é essencial para quem quer saber da recente história latino-americana e para se situar no tempo atual. Liberte-se!

Um aperitivo:


 
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Os Reinos

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Chaplin

Impactos Fatais: Imperialismo, Racismo & Extermínio

45 min. / Dublado em Português / BBC

Como parte da comemoração do bicentenário da Lei de Abolição ao Tráfico de Escravos (1807), a BBC 4, dentro da chamada "Abolition Season", exibiu uma série composta por três episódios, independentes entre si, abordando a história e os aspectos do racismo pelo mundo. São eles: "A Cor do Dinheiro", "Impactos Fatais" e "Um Legado Selvagem".

Episódio 1:


O programa examina as atitudes de alguns dos grandes filósofos em relação às diferenças humanas, incluindo a abordagem das implicações dos dogmas do Velho Testamento acerca dos atributos das diferentes raças, especificamente "A Maldição de Cam". Analisa a fracassada experiência democrática da Serra Leoa, a Revolução do Haiti, a primeira revolução escrava bem sucedida da história, demonstrando como ele passou da colônia mais rica das Américas ao país mais pobre do hemisfério norte. Este episódio trata, ainda que de forma superficial, da chamada "democracia racial" brasileira.Por fim, conclui-se que a força motriz por trás da exploração e escravização dos chamados "povos inferiores" foi a economia, e que a luta para apagar e cicatrizar os feitos e legados deixados pelo sistema escravocrata ainda continua.

Episódio 2:

É a mais superficial das diferenças humanas, tem apenas a profundidade da pele. No entanto, como construção ideológica, a ideia de raça impulsionou guerras, influenciou a política e definiu a economia mundial por mais de cinco séculos.O programa aborda as teorias raciais desenvolvidas na era vitoriana, a eugenia, o darwinismo social e o racismo científico, desenvolvendo a narrativa a partir da descoberta dos restos mortais encontrados no deserto da Namíbia pertencentes às primeiras vítimas do que ficaria conhecido como campo de concentração, 30 anos antes de o nazismo chegar ao poder na Alemanha.Tais teorias levaram ao desenvolvimento da Eugenia e das políticas raciais nazistas.O documentário sustenta que os genocídios coloniais, o campo de morte da ilha de Shark, a destruição dos aborígenes tasmanianos e os 30 milhões de indianos vítimas da fome, foram apagados da história da Europa, e que a perda desta memória encoraja a crença de que a violência nazista foi uma aberração na história daquele continente. Mas que, assim como os ossos ressurgidos no deserto da Namíbia, esta história se recusa a ficar enterrada para sempre.

Episódio 3:

O programa aborda o cruel legado deixado pelo racismo ao longo dos séculos. Iniciando pelos EUA, berço da Ku Klux Klan, onde o pesquisador James Allen, possuidor de vasta coleção de material fotográfico e jornalístico sobre linchamentos, defende que há um movimento arquitetado para apagar a mácula racial da memória do país. A seguir, remonta à colonização belga do Congo, por Leopoldo II, onde os negros que não atingiam a quota diária de borracha tinham a mão direita decepada. O documentário trata ainda da problemática racial na África do Sul (Apartheid) e Grã-Bretanha, abordando a luta do Movimento pelos Direitos Civis nos EUA e a desconstituição do mito da existência de raças.
 
Todo ele aqui:
Imperialismo e racismo
 
Uma pequena amostra:
 

SANGUE LATINO ESTREIA DIA 25 DE MAIO NO CANAL BRASIL

Eric Nepomuceno conversa em clima intimista com intelectuais da América Latina sobre cinema, literatura, música e política

Alguns dos principais intelectuais da América Latina estarão reunidos no Canal Brasil a partir do dia 25/05, às 21h, com a estreia do programa Sangue Latino. O escritor e jornalista Eric Nepomuceno reuniu escritores, músicos, poetas, artistas plásticos e outros grandes pensadores do continente em conversas sobre a situação política, literatura, música, cultura e política dos países da região, entre outros temas. As entrevistas foram gravadas no Uruguai, Argentina, Chile e no Brasil, sempre em clima intimista e sem uma pauta previamente determinada para cada convidado.

Dirigido por Felipe Nepomuceno – filho do apresentador – e produzido pela Urca Filmes, o programa traz nomes de grande influência na cultura latino-americana. Entre os entrevistados, o escritor e compositor brasileiro Chico Buarque, o escritor uruguaio Eduardo Galeano - autor do premiado "As Veias Abertas da América Latina" – e o artista plástico argentino Leon Ferrari, considerado pelo New York Times como um dos cinco artistas vivos mais provocadores e importantes do mundo'.

Eric também conversou com o escritor chileno Antonio Skármeta, autor de "Ardente Paciência", livro que inspirou o premiado filme "O Carteiro e o Poeta", vencedor de um Oscar e indicado a mais quatro categorias. Os argentinos Pino Solanas, cineasta tido como referência no cinema documental, e o escritor Mempo Giardinelli, autor de Luna Caliente – que no Brasil inspirou a minissérie homônima produzida pela TV Globo – são mais alguns dos 18 entrevistados no programa.

Sangue Latino foi gravado com câmeras de alta resolução, e com imagens apenas em preto e branco, o que dá ao programa uma linguagem documental. A trilha sonora foi composta em uma jam session com o pianista e acordeonista Marcos Nimrichter, apresentador do Estúdio 66, programa do Canal Brasil.

Serviço – Sangue Latino

Estreia: Terça-feira, dia 25/05, às 21h.

Horário alternativo: sábado, às 12h.

O império do consumo

por Eduardo Galeano

O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?

A explosão do consumo no mundo actual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar. A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força hum ana de trabalho.

O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas a luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insónia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial. < /p>

"Gente infeliz os que vivem a comparar-se", lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. "Quando não tens nada, pensas que não vales nada", diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: "Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações".

Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a "obesidade severa" aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel par trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.

Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um património colectivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hamburguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald's, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.

O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald's não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald's dispara hamburguers às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald's de Moscovo, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.

Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald's viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas no 98, outros empregados da McDonald's, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.

As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mis Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juro que este ou aquele banco oferece. Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados. As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário. A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes. As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam vêem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios, a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho fal ta e os braços sobram. Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam "porque as pessoas têm o gosto de juntar-se". Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas? O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de auto-carros e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.


O shopping center, ou shopping mall, vitrina de todas as vitrinas, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça. Beatriz Solano observou que os habi tantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas. A cultura do consumo, cultura do efémero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não h á natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.


10/Maio/2010

O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , nº 2199

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

SAIBA O QUE É O CAPITALISMO

Atílio Borón*

O capitalismo tem legiões de apologistas. Muitos o fazem de boa fé, produto de sua ignorância e pelo fato como dizia Marx, “o sistema é opaco e sua natureza exploradora e predatória não fica evidente, perante os olhos de homens e mulheres do mundo” Outros o defendem porque são seus grandes beneficiários e arregimentam enormes fortunas graças a suas injustiças e iniqüidades. Há também outros (gurus, financistas, opinólogos, jornalistas especializados, acadêmicos bem pensantes e diversos representantes do pensamento único) que conhecem perfeitamente o que o sistema impõe em termos de custos sociais, degradação humana e do meio ambiente, mas como estão muito bem remunerados procuram omitir essas questões em seus relatos. Eles sabem muito bem, que a “batalha de idéias” que foi convocada por Fidel Castro é algo que pode ser perigoso para as ideologias que no intimo defendem e por isso não se empenham em denunciar as mazelas do capitalismo.

Para contraditar a proliferação de versões idílicas sobre o capitalismo e de sua capacidade de promover o bem estar geral examinemos alguns dados obtidos de documentos oficiais das ONU. Eles são sumamente didáticos quando se lê, principalmente em relação a crise atual – indicando que a solução dos problemas do capitalismo se obtém com mais capitalismo; ou que o G20, o FMI, a OMC e o BIRD, arrependidos dos erros do passado – irão efetivamente resolver os grandes problemas que afetam a humanidade. Todas essas instituições são incorrigíveis e irreformáveis e qualquer esperança de mudanças em seus comportamentos não é nada mais do que pura ilusão. Seguem propondo o mesmo, somente que o discurso é diferente e adotando uma estratégia de “relações públicas” desenhada para ocultar suas verdadeiras intenções. Quem tenha dúvidas que constate o que estão propondo para “solucionar” a crise na Grécia: as mesmas receitas que aplicaram e seguem aplicando na América Latina e África desde os anos oitenta do século passado.

Em continuação, podemos citar alguns dados com suas respectivas fontes recentemente sistematizados pelo Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza localizado na Universidade de Bergen, Noruega, que fez um grande esforço para, desde uma perspectiva crítica, combater o discurso oficial sobre a pobreza elaborado desde mais de trinta anos pelo Banco Mundial e reproduzido incansavelmente pelos meios de comunicação, autoridades governamentais, acadêmicos e “especialistas” variados.

População mundial: 6,8 bilhões de habitantes em 2009.

1,02 bilhão de pessoas são desnutridos crônicos (FAO,2009);

2 bilhões de pessoas não tem acesso a medicamentos (www.fic.nih.gov);

884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável (OMS/UNICEF 2008);

925 milhões de pessoas são “sem teto” ou residem em moradias precárias (ONU Habitat 2003);

1,6 bilhões de pessoas não tem acesso à energia elétrica (ONU Habitat, Urban Energy);

2,5 bilhões de pessoas não são beneficiados por sistemas de saneamento, drenagens ou privadas domiciliares (OMS/UNICEF 2008);

774 milhões de adultos são analfabetos ( www.uis.unesco.org );

18 milhões de mortes por ano devido pobreza, a maioria de crianças menores do que cinco anos de idade (OMS);

218 milhões de crianças entre 5 e 17 anos de idade, trabalham em condições de escravidão com tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados da ativa atuando em guerras e/ou conflitos civis, na prostituição infantil, como serventes, em trabalhos insalubres na agricultura, na construção civil ou industria têxtil (OIT: “La eliminación Del trabajo infantil, un objetivo a nuestro alcance” 2006);

Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação no produto interno bruto mundial (PIB mundial) de 1,16% para 0,92%; enquanto os opulentos 10% mais ricos acrescentaram fortunas em seus bens pessoais passando a dispor de 64% para 71,1% da riqueza mundial. O enriquecimento de uns poucos tem como seu reverso o empobrecimento de muitos;

Somente esses 6,4% de aumento da riqueza dos mais ricos seriam suficientes para duplicar a renda de 70% da população mundial, salvando muitas vidas e reduzindo os sofrimentos dos mais pobres. Entendam bem: tal coisa somente seria obtida se houvesse possibilidade de redistribuir o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002 dos 10% mais ricos da população mundial, deixando ainda intactas suas exorbitantes fortunas. Mas nem isso passa a ser aceitável pelas classes dominantes do capitalismo mundial.

CONCLUSÃO

Não se pode combater a pobreza (nem erradicá-la) adotando-se medidas capitalistas. Isso porque o sistema obedece a uma lógica implacável centrada na obtenção do lucro, o que concentra a riqueza e aumenta incessantemente a pobreza e as desigualdades sócio-econômicas a nível mundial.

Depois de cinco séculos de existência é isto e somente isto que o capitalismo tem para oferecer ao mundo! Que esperamos então para mudar o sistema? Se a humanidade tem futuro, esse será claramente socialista! Com o capitalismo, não haverá futuro para ninguém! Nem para os ricos, nem para os pobres! A sentença de Friedrich Engels e também de Rosa Luxemburg: “socialismo ou barbárie” é hoje mais atual do que nunca. Nenhuma sociedade sobrevive quando seu impulso vital reside na busca incessante do lucro e seu motor é a ganância, a usura. Mas cedo ou mais tarde provocará a desintegração da vida social, a destruição do meio ambiente, a decadência política e a crise moral. Todavia estamos ainda em tempo para reverter esse quadro – então vamos à luta!

*Atilio Borón, doutor em Ciência Política pela Harvard University, é professor titular de Filosofia Política da Universidade de Buenos Aires, Argentina, e ex-secretário-executivo do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO).

Drummond poeta e socialista


Aos 82 anos, três anos antes de sua morte em 1987, o poeta Drummond reafirma sua convicção socialista:


“Não sei se é uma crença absurda, mas eu acho que a gente moça tem que achar um caminho, tem que descobrir uma coisa. Para isso, ela está se informando nas universidades, ela está vendo o dia a dia brasileiro, está vendo o que se passa no mundo, ela tem uma soma de informações que tem de ser útil. Há de aparecer um líder, vários líderes, uma nova corrente de opinião que venha de uma educação democrática, uma educação positiva, realista, objetiva que criasse no espírito dos jovens condições para que eles assumissem o poder. Acho que o mundo marcha para uma sociedade socialista. A sociedade burguesa é tão devoradora que ela dá uma aparência de independência à mulher mas cobra caro. A mulher fica sendo um objeto de moda, de fotografia simplesmente. Acho que a mulher deve se compenetrar disso, que ela é realmente muito importante, não como deusa, como rainha, mas como participante da vida, que está adquirindo direitos e precisa regular estes direitos para que não seja manipulada também.”.

Documentário APESAR DE VOCÊ - os caminhos da justiça

O documentário APESAR DE VOCÊ - os caminhos da justiça, retrata a luta jurídica no Brasil contra a impunidade dos torturadores do regime militar de 1964 - 1985. Mostra uma história de mais de 30 anos por verdade e justiça, que está longe de se encerrar e discute os fatos recentes ocorridos no país, na busca pela responsabilização dos torturadores, através de matérias jornalísticas e declarações dos principais atores. O documentário realizado por Marcelo Zelic, que nos últimos anos tem registrado e coletado imagens de vários eventos desse processo político, é assinado pelas entidades Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Juízes para a Democracia, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, Grupo Tortura Nunca Mais-SP, Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Associação dos Magistrados do Brasil, União Nacional dos Estudantes e pelo projeto Memórias Reveladas do Arquivo Nacional. Produção - www.armazemmeoria.com.br - Duração 54 minutos Distribuição Cidadã - Copie e Distribua Contatos: marcelozelic@gmail.com



Como seria o Brasil com 100 pessoas??

O Miniature Earth é um projeto tão simples quanto legal. Trata de reduzir a população da Terra a apenas 100 pessoas e faz uma análise de como seria. Assim nasceu o Aldeia Brasil.

http://aldeiabr.mdig.com.br/

Capitalismo para principiantes

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

A História nos filmes, os filmes na história.

Robert A. Rosenstone
Professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia, Robert A. Rosenstone é um dos principais estudiosos do polêmico e crescente campo de História e cinema. Sua premiada biografia de John Reed, Romantic Revolutionary (1975), foi usada como base para o filme Reds, dirigido por Warren Beatty e vencedor de vários prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, no qual Rosenstone trabalhou como consultor histórico. É autor de várias obras no campo da História e é editor fundador de Rethinking History: The Journal of Theory and Practice.


Este é um livro que vai além da relação de espelhamento entre cinema e história e amplia as possibilidades de compreensão sobre a construção historiográfica e a construção cinematográfica do passado, iluminando não só a compreensão dos filmes mas da própria escrita da história. Robert Rosenstone apresenta uma análise minuciosa de filmes de diferentes nacionalidades, épocas e estilos cinematográficos, investiga de que forma o cineasta se torna um historiador, e examina a interação do cinema com o discurso histórico. Voltado para um público amplo, esta obra é também indicada a professores e estudantes de História, Ciências Humanas e Cinema e Comunicação.

Projeto Releituras

Um local em que você pode obter centenas de textos de autores famosos ou iniciantes. Além dos textos, você encontra as biografias dos autores, alguns textos ilustrados e uma cinemateca com dezenas de curtas para assistir.


De acordo com Nelson Rodrigues, “deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia“.

Vale a pena conferir

http://www.releituras.com/index.asp

Biografias




http://educacao.uol.com.br/biografias/

Rodolfo Walsh

Nossas classes dominantes tem procurado sempre que os trabalhadores não tenham história, não tenham doutrina, não tenham heróis ou mártires. Cada luta deve começar de novo, separada dos fatos anteriores: a experiência coletiva se perde, as lições são esquecidas. A história aparece como propriedade privada, cujos donos são os donos de todas as outras coisas.


Rodolfo Walsh

Drogas e capitalismo - Quem são os verdadeiros criminosos

Rosana Bond (*)

Se o leitor, acreditando na Rede Globo e similares, pensa que os verdadeiros e maiores culpados pelo inferno imposto ao povo brasileiro pelo crack, cocaína e maconha são os traficantes das favelas e subúrbios das cidades, está enganado. Essas gangues são apenas vendedoras varejistas, "funcionárias" de um patrão atacadista, e estão no degrau menos poderoso e rico de um gigantesco business capitalista nacional e internacional.

Os donos, diretores e administradores dessa cadeia produtiva integrada à economia do imperialismo, embora se escondam em luxuosos edifícios e debaixo de seus caros ternos de executivos, podem ser plenamente identificados. São membros das classes dominantes. Financistas, empresários da alta burguesia e latifundiários.

No Brasil, "respeitáveis" fazendeiros e banqueiros são os mais citados (o HSBC, Unibanco, Bradesco, Real, Credit Suisse e Bozano Simonsen já apareceram em denúncias).

Na Colômbia e Peru, além do latifúndio e de bancos, também são apontados como "sócios" as Forças Armadas e políticos de vários calibres, inclusive presidentes da República.

Porém, o comando do negócio é do USA. Foram seus governantes e suas classes ricas quem, a partir dos anos 1970/1980, implantaram e massificaram esse horrendo negócio, através principalmente da CIA (agência de espionagem/ inteligência), da DEA (agência de "combate" às drogas), do FBI (polícia federal) e do Pentágono (Forças Armadas).

Extrema ironia: no resumo da novela, a denunciante Globo e os denunciados traficantes possuem o mesmíssimo patrão.

Como tudo começou

Hoje a droga movimenta cerca de 300 a 500 bilhões de dólares ao ano, é o 2 º ítem do comércio mundial, vencendo até o petróleo, só sendo superado pelo das armas. Ao contrário do que divulga o monopólio da imprensa, essa economia não nasceu e cresceu apenas como atividade de marginais, cartéis e máfias e sim foi algo planejado e montado pelo imperialismo (principalmente do USA) como um business . Se isso mata ou destrói seres humanos (até em seu próprio país) pouco importa.

"O tráfico de drogas foi sempre um negócio capitalista, por ser organizado como uma empresa, estimulada pelo lucro", diz a enciclopédia Conteúdo Global (*).

A droga como gerador de renda para as classes dominantes e para o imperialismo vem desde séculos atrás, porém a “narcoempresa”, nos moldes em que existe hoje, começou a surgir na década de 1960 e solidificou-se a partir de 1970/1980.

Foi nos anos 60 que os ianques enxergaram as mil vantagens políticas/ideológicas e econômicas que uma transnacional da droga poderia dar ao sistema.

Sabe-se que desde 1963 os militares do USA e a CIA montaram "uma rede de produção e distribuição de narcóticos para gerar uma fonte de financiamento para futuras ações de contrainsurgência (guerras populares e movimentos de libertação na América Latina)", afirma a Folha da História (*).

E agrega: "No final de 1964, Philip Agee, agente da CIA, denunciou o começo da operação na Bolívia. Ali os generais Barrientos e Banzer, também agentes da CIA, construíram uma primeira rede".

Pouco depois, para criar um mercado consumidor maior, o USA não teve nenhum melindre em viciar seus próprios cidadãos: os soldados mandados ao Vietnã. Segundo Jansen (*) essa guerra (1964-1975) seria marcada pelo uso generalizado de drogas. "Cerca de 30 mil soldados estadunidenses se tornaram dependentes de drogas (notadamente maconha e heroína) para que continuassem estimulados no front ".

O FMI participa

Perto dos anos 1980, com a elevação do número de consumidores/viciados no USA e outros lugares, era necessário incentivar o crescimento das lavouras de folhas de coca e maconha, para sustentar o grande business . E isso foi feito com a participação do FMI e do Banco Mundial, na década de 80.

Naquela época, suas medidas anti-povo em muitos países pobres resultaram na supressão de milhões de empregos. Conforme Jansen, isso "provocou uma transferência maciça de mão de obra para a economia dita informal e em particular para a produção de drogas, em países como Bolívia, Peru, Colômbia, Afeganistão".

Vejamos o caso da famosa Colômbia.

Hoje o país produz cerca de 80% da cocaína do mundo. Isso só foi possível porque com o empurrão do FMI e Banco Mundial, na década de 1980 os fazendeiros deixaram de produzir café para produzir coca e cocaína. Ou seja, os latifundiários colombianos foram convidados pelos ianques a entrar na empresa. Aceitaram com gosto.

Os gerentes do país passaram a autorizar empréstimos externos nos quais os dólares eram trocados por pesos, plano que ficou conhecido como Ventanilla Siniestra (Janelinha Sinistra). Com tal plano, verdadeira oficialização da lavagem de dinheiro da droga, autoridades colombianas "deram anistias tributárias, por meio das quais foram incorporados e legalizados os investimentos dos narcotraficantes", afirma Jansen.

Vejamos ainda o exemplo da Bolívia, onde o FMI e o presidente Paz Estenssoro também abriram as portas para o grande narco-negócio na década de 1980.

Conforme Del Roio (*), em 1985 foi aplicado um plano econômico que levou os índices de desemprego a 30%. O FMI aconselha e pressiona para a liberalização geral.

Então, "o presidente Paz Estenssoro, com o decreto DS 21.060 declara que todas as moedas cotadas podem ser depositadas nos bancos bolivianos, em qualquer quantidade e sem controle nenhum, com respeito total ao sigilo bancário em relação a sua proveniência. Os aplausos dos organismos econômicos internacionais foram generalizados. Significou o sinal verde para os grandes investimentos na coca. (...) Aconteceu que em pouco tempo no planalto de Chapare, o melhor terreno para a plantação, a população passou de 20 mil habitantes para 200 mil. Caso quase único de esvaziamento das cidades e retorno ao campo".

Com o aumento da produção, o chefe de polícia do Panamá Manoel Antônio Noriega já conseguia, entre 1984 e 1986, "exportar" ao USA 2 toneladas de cocaína e 500 toneladas de maconha do cartel colombiano de Medellín.

Noriega era agente da CIA desde 1967. Ele participou de esquema clandestino organizado pela CIA de financiamento dos bandos paramilitares chamados de "os Contras" que atacavam o governo sandinista da Nicarágua, relata Jansen. Tal operação ficou conhecida em 1986 como o escândalo "Irã-Contras" (compra de armas no Irã para financiar os bandos na tentativa de derrubar os sandinistas).

Em 1989, Noriega se proclamou chefe de Estado do Panamá, declarando-se em estado de guerra contra o USA. Resultado: 13 mil marines invadiram o país e o prenderam. O pretexto foi "combate ao narcotráfico". Mas muita gente não acreditou. Para a CIA, ele era um perigoso arquivo.

Como funciona

No Afeganistão, a produção de drogas foi retomada depois da invasão militar do USA em 2001. Após a invasão, o país superou a Colômbia e se tornou o maior produtor mundial de drogas (principalmente ópio e heroína) e, em 2003, o negócio faturou 2,3 bilhões de dólares, mais da metade do PIB do país.

Embora o comando da narcoeconomia seja dos ianques, sua estrutura é similar à uma transnacional e funciona em rede.

Na América do Sul, na ponta da produção está o latifúndio, que planta coca e maconha.

No Brasil, fazendeiros e camponeses pobres do sertão de Pernambuco ("polígono da maconha"), Maranhão, Tocantins e Mato Grosso são os mais citados.

Os produtores latinoamericanos têm como sócios e protetores um numeroso segmento de políticos (até presidentes da República, como no Peru e Colômbia), militares, juízes, etc.

A distribuição atacadista internacional costuma contar com empresários do chamado crime organizado (cartéis, máfias, etc).

Todos esses departamentos do “narco-negócio”, embora poderosos, ficam com apenas 10% dos lucros totais. A distribuição varejista, a dos traficantes dos morros e periferias do Brasil, aquela que a Globo e o resto do monopólio ataca, é a raia mais miúda do business, não recebendo mais que uma parcela mínima desses 10%.

O maior lucro do empreendimento, 90% do total, é dos bancos. "Respeitáveis" banqueiros, frequentadores das colunas sociais, deveriam estar nas páginas policiais.

Diz a enciclopédia Conteúdo Global que o papel central da narcoeconomia como parte integrante do capitalismo é detectado no peso que a lavagem do dinheiro da droga possui hoje no sistema bancário internacional.

No Brasil, os mais apontados em denúncias são o HSBC, Unibanco, Bradesco, Real, Credit Suisse e Bozano Simonsen.

Há alguns anos, para facilitar a vida dos seus clientes da “narcoeconomia”, vários bancos criaram filiais em alguns países, nos quais vale tudo, e que são chamadas de paraísos fiscais.

Conforme José Moreira Chumbinho (*), as drogas são uma das principais armas criadas pelo imperialismo em decadência. "O processo de domesticação econômica, ideológica e política, associada ao uso ‘voluntário' e permanente de drogas completa o ciclo necessário para incapacitar os setores mais combativos da população".

O surgimento do crack

Reproduzimos aqui alguns trechos de artigo de Ney Jansen, bastante esclarecedores:

"Na década de 1980 jovens do bairro pobre de South Central de Los Angeles, Califórnia, foram devastados pelo crack. Em 18/08/1996 o jornal local San José Mercury News, publicou uma série de artigos sobre como a droga se apoderou daquele território.

O que esteve por trás de tudo: o escândalo Irã-Contras e as ligações entre a CIA, DEA e os cartéis colombianos, protegendo a entrada de drogas no USA para financiar os "Contras" na Nicarágua. A citação (de Del Roio) é longa, mas merece ser reproduzida por extenso:

"Os que possuem boa memória se recordarão do processo contra o coronel Oliver North, que terminou com sua condenação. Os autos desse processo demonstraram com nomes e fatos que por vários anos a CIA e a DEA estiveram em contato com os chamados cartéis colombianos, protegendo a entrada de drogas nos Estados Unidos. Tal operação servia para encontrar fundos ilegais para financiar as forças opositoras ao governo sandinista da Nicarágua.

Através dos cristais que restam da fabricação da cocaína, é possível fabricar uma droga muito mais barata e mortal, adequada aos pobres, que será chamada de crack.

Eis que os guetos negros de Los Angeles, onde o desemprego juvenil chega a 45%, pode ser inundado com o novo produto. Por cinco anos, de 1982 a 1987, os Contras nicaraguenses, com a cobertura de organismos oficiais (do USA), despeja 100 quilos de cristais de coca semanais sobre South Central (Obs: Total de 27 mil quilos).

(...)A partir dessa atividade criminosa exercida contra os negros de Los Angeles, o crack espalhou-se pelas metrópoles dos Estados Unidos e de vários países latino-americanos.

Esta é uma história para recordarmos quando vemos nas ruas de São Paulo (Obs: E muitíssimas outras cidades) as nossas crianças agonizando ou cometendo crimes porque viciadas em crack. Agora sabemos quem são os primeiros responsáveis".

O surgimento do crack na década de 1980 tem por antecedência o papel político que as drogas desempenharam no USA nas décadas de 1960 e 70.

É nesse período que surge em 1966 o Partido dos Panteras Negras, organização da classe operária e da juventude negra do USA.

(…) Além de destruir as sedes, prender e assassinar os militantes Panteras Negras, a CIA e o FBI passarão, em associação com narcotraficantes da América latina, a despejar toneladas de cocaína, maconha, heroína nos bairros negros visando a desarticulação política, levando à dissolução do Partido.

Mumia Abu Jamal (2001), ex-militante dos Panteras Negras, comentou o papel do crack nas comunidades negras no USA:

"Um espectro assombra as comunidades negras da América. Como vampiro, suga a alma das vidas negras, não deixando nada senão esqueletos que se movem fisicamente mas que estão afetiva e espiritualmente mortos.

É o resultado direto da rapinagem planetária, das manipulações dos governos e da eterna aspiração dos pobres a fugir, aliviar-se, ainda que brevemente, dos paralisantes grilhões da miséria extrema.

A sua procura de alívio se soletra C-R-A-C-K. Crack. Pedra. Chame como quiser, pouco importa; ele é na verdade, uma outra palavra para "morte".


Notas
(*) Principais fontes: Drogas, imperialismo e luta de classes , Ney Jansen (sociólogo), artigo, revista Urutagua, no.12, 2007, Universidade Estadual de Maringá (PR); As últimas armas do império agonizante , José Moreira Chumbinho, A Nova Democracia nº 1, julho/agosto 2002; Verbetes do sítio www.conteudoglobal.com (enciclopédia virtual ) ; Mundialização e criminalidade, José Luiz Del Roio, in: Drogas: hegemonia do cinismo , Memorial. 1997; Folha da História , junho, 2000 in: Peru – Do império dos incas ao império da cocaína , Rosana Bond, Coedita, 2004